Muitas pessoas acreditam que a ergonomia se resume a ajustar a mesa e a cadeira, porém é importante compreendermos que a ergonomia vai muito além disso. Ela é fundamental para garantir mais saúde ao trabalhador, além de aumentar a eficiência e a economia para as empresas.
A ergonomia trata do conforto do trabalhador em sua interação com o ambiente de trabalho, ou seja, ela busca ajustar as condições de trabalho para que as tarefas possam ser executadas com o mínimo de desconforto possível. Quando falamos sobre ergonomia, estamos discutindo a melhoria das condições para evitar que o trabalhador sofra com dores, lesões ou desconfortos que possam afetar sua produtividade.
Ergonomia vai além de mesa e cadeira!
É crucial desmistificar a ideia de que ergonomia se resume apenas ao ajuste de mobiliário. Embora isso seja uma parte importante, o conceito vai além. A ergonomia envolve entender como os desconfortos no ambiente de trabalho impactam a saúde do trabalhador e, consequentemente, a eficiência das tarefas realizadas. Quando o trabalhador não está confortável, a atividade se torna menos produtiva, ineficiente e, frequentemente, mais custosa para a empresa.
Vamos refletir sobre um exemplo simples: imagine que a sua profissão seja tomar café (quem não adoraria, não é mesmo?). Se você pegar um copo plástico muito fino, ele pode ficar tão quente que será impossível segurá-lo com conforto. O que você faria nesse caso? Possivelmente, tentaria se adaptar à situação, talvez usando outro copo para proteger as mãos, ou até esperando o café esfriar, o que tornaria a tarefa mais lenta.
Nessa situação, o desconforto cria dois problemas: o aumento do custo (usando mais copos) e a redução da eficiência (tornando o processo mais demorado). Quando a ergonomia é aplicada corretamente no ambiente de trabalho, ela visa justamente evitar esse tipo de ineficiência.
A relação entre ergonomia, produtividade e custos
Agora, imagine se fosse possível eliminar esses desconfortos. A atividade se tornaria mais rápida e eficiente, utilizando menos recursos e, em muitos casos, resultando em um processo mais barato para a empresa. O ponto central da ergonomia é eliminar esses fatores de desconforto que prejudicam a produtividade, criando um ambiente de trabalho mais eficiente e saudável. Isso beneficia tanto o trabalhador, que passa a realizar suas tarefas com menos esforço e mais conforto, quanto a empresa, que reduz custos operacionais e aumenta a produtividade.
Portanto, ao combater os desconfortos em todas as atividades, estamos não apenas promovendo a saúde dos trabalhadores, mas também aprimorando processos e aumentando a eficiência organizacional. A ergonomia, nesse sentido, é uma estratégia poderosa para alcançar melhores resultados tanto para o bem-estar do trabalhador quanto para a economia da empresa.
O impasse da Matriz de Risco Ergonômico
A Ergonomia demanda uma abordagem específica, pois sua avaliação difere de outras áreas de segurança do trabalho. Enquanto as matrizes tradicionais de risco estão focadas principalmente em acidentes graves, a análise ergonômica preocupa-se mais com os impactos do desconforto no desempenho do trabalhador. Quando a matriz do PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos) não é adequada para considerar as questões ergonômicas, é necessário adotar medidas de prevenção e estratégias para mitigar os riscos. Nesse contexto, a matriz FMEA se apresenta como uma alternativa eficaz. A seguir, vamos explorar os desafios da matriz de risco ergonômico.
Embora possamos ter opiniões diferentes sobre isso, é inegável que a Ergonomia se diferencia das outras áreas. Suas análises exigem um entendimento mais específico. Ao avaliar os fatores previstos pela NR-17, buscamos compreender os impactos do desconforto no desempenho do trabalhador, o que raramente está relacionado a acidentes fatais ou incapacitantes. Esse foco está distante da abordagem tradicional das matrizes de risco, que geralmente consideram eventos mais extremos e irreversíveis.
Por exemplo, se formos obrigados a usar a matriz do PGR para analisar os riscos ergonômicos, é provável que, em muitos casos, a severidade dos riscos seja classificada entre 1 ou 2 (reversível leve ou severo), de um total de 5 categorias. Isso já demonstra uma limitação na interpretação que podemos ter ao usar matrizes que não são adaptadas para as particularidades dos riscos ergonômicos.
Outro ponto importante diz respeito às medidas de prevenção, que não são adequadamente abordadas nas matrizes de risco tradicionais. Na nova NR-17, as medidas de prevenção e de atenuação dos riscos ergonômicos, como pausas, rodízios, cadência flexível, alternância postural, entre outros, são fundamentais e não devem ser ignoradas ao se dimensionar o risco ergonômico.
Uma análise de risco ergonômico deve considerar essas medidas de "amenização", que ajudam a reduzir os impactos negativos das exigências ergonômicas nas atividades. Por isso, é desejável usar uma matriz de risco que permita ponderar e atenuar o risco com base nas medidas de controle disponíveis na empresa. Nesse sentido, a matriz FMEA (Análise dos Modos de Falha e Efeitos) surge como uma ferramenta mais adequada.
Em resumo, enquanto para a avaliação de muitos tipos de riscos (físicos, químicos, biológicos, etc.), uma matriz que classifica o efeito (gravidade) em função da frequência (exposição) pode fazer sentido, essa abordagem não se aplica bem à Ergonomia.
Para resolver esse impasse e manter uma padronização nos riscos sem que os profissionais de Ergonomia sejam forçados a utilizar uma matriz inadequada, proponho duas soluções:
1. Realizar uma AEP (Avaliação Ergonômica Preliminar) separada, como um documento independente, onde serão explicados os métodos adotados e as razões por trás dessas escolhas. Dentro do PGR, quando os riscos ergonômicos forem mencionados, deve-se fazer referência a essa AEP.
2. Ajustar os conceitos das duas matrizes de risco, já que ambas classificam os riscos em 5 categorias. A metodologia do PGR deve incluir a necessidade de usar matrizes de risco distintas para riscos ergonômicos, conforme os motivos já discutidos, e alinhar os conceitos de maneira consistente.
A matriz de risco não se resume a apenas cruzar a probabilidade com a gravidade. O número gerado por essa matriz tem um significado mais profundo, pois conta uma história. No caso da Ergonomia, essa história deve considerar tanto a percepção do trabalhador quanto as medidas de prevenção adotadas. Se não fizermos isso, a história ficará distorcida ou, no mínimo, incompleta.
Portanto, ao trabalhar com a matriz de risco ergonômico, é essencial considerar a verbalização dos trabalhadores e as medidas de controle. Apenas assim conseguiremos adotar uma abordagem justa e equilibrada para garantir a segurança e o bem-estar no ambiente de trabalho.